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Mundo dos sentidos e consciência pura

Mundo dos sentidos e consciência pura

De Rosângela Carvalho Ferreira (rfcarvalho27@yahoo.com.br) – em agosto de 2010


Em geral, no mundo dos sentidos, o modo de agir de um indivíduo é reativo e condicionado. Quando ele vai alem desse modo de agir, ele para de modificar esses padrões mentais, que o levam a oscilações energéticas vibratórias características de um comportamento reativo. E esse comportamento se identifica com diferentes estados condicionados a novos estados de ânimo, por exemplo, estados de alegria e tristeza, felicidade e infelicidade etc.

Nesta oscilação emocional de extremos, de polaridades, nenhuma parte do indivíduo fica fora deste estado e observa. Desse modo, apesar de as situações de vida estarem em constante mutação, suas reações raramente mudam qualitativamente, ao mesmo tempo em que oscilam como um pêndulo. E o indivíduo é lançado de uma situação para outra, de reação em reação, numa estagnação enfadonha e empobrecedora dos sentidos.

Reações habituais de emoções antagônicas ( amor x ódio ; alegria x tristeza e outras ) às quais está acostumado o levam a identificar seu próprio ego com esses estados. Além disso, o meio ambiente em que se vive e bem como a sociedade, reforçam a adoção desses padrões. Porém, se o mundo de um indivíduo não está pautado em suas reações padronizadas, abrem-se novas perspectivas para que, a cada dia, possa viver plenamente cada momento.

O antídoto contra a fixação nesses padrões reativos de comportamento consiste em não se identificar com seus estados reativos. A identificação com estados induzidos pela gratificação sensorial pode apenas produzir um estado temporário de prazer. Porém, perigosamente os estados reativos podem vir a tornar-se sua idéia de satisfação real. Ao mesmo tempo, não estamos afirmando que não se deve ter reações a níveis sensoriais de comportamento, apenas estamos enfatizando a importância de se ter uma atitude distanciada, de observador, de testemunha, sem se identificar com eles. É importante lembrar que a gratificação sensorial não pode ser e não é a meta, um fim em si. Este é o primeiro passo.

Em seu cotidiano, o indivíduo é levado por seus condicionamentos e acaba perdendo a conexão com seu mundo interior, de natureza não reativa Às vezes até, não se dá conta disso, a nível consciente, o que pode gerar um sentimento de insatisfação pessoal, até de depressão, conforme o caso. Em geral, costuma reagir positivamente ao ver um amigo e negativamente ao ver um inimigo. Nunca consegue ser crítico de um amigo, bem como, consegue encontrar pontos positivos em um inimigo. E por que cria amigos e inimigos? Por causa de sua forte identificação às suas reações. Porém, o processo pelo qual se passa quando não se identifica aos elementos reativos e se distingue a diferença entre o que é transitório e o que é eterno, entre o que é sensorial e o que não o é, desperta em si a mais alta faculdade da mente, conhecida como consciência pura ou energia pura, conduzindo, em sua prática, ao despertar de níveis, dimensões mais elevadas de consciência.

As reações que vêm do mundo externo recebem informações dos sentidos. Essas informações e impressões formam condicionamentos e a personalidade de um indivíduo, envolvendo todos os aspectos de seu ser, até mesmo sua postura física, seus gestos etc. Suas reações e condicionamentos alimentam um ao outro, como num círculo vicioso. Entretanto, para rompê-lo é necessário que se coloque um espaço entre a percepção e sua reação. Esse é o espaço da consciência, do despertar e vivenciar níveis mais elevados de ser. E esse espaço/tempo tem tudo a ver com uma postura nova, um gesto novo, uma perspectiva nova, uma ruptura de padrões e condicionamentos, a cada situação do dia-a dia da existência de cada um, mesmo nas pequenas coisas do cotidiano. E esse novo olhar, essa atenção a cada situação nova vivenciada está ancorada no comportamento criativo, que se renova e se reinventa a cada instante.

O “despertar da consciência”, tão apregoado por várias linhas de pensamento filosófico/religioso, não é uma meta distante a ser alcançada, é o caminho a percorrer. Se desperta mais e mais, em doses homeopáticas, na sucessão de momentos da existência do indivíduo, mais lentamente ou mais rapidamente, dependendo de quanto ele vai-se conscientizando, desde o nascimento. A consciência pura é a graça concedida, a razão de se experienciar a vida manifesta, sem o que, apenas se acumula os dias e as noites ao seu estado contínuo de sonambulismo e ignorância de sua natureza cósmica, até o desgaste final de seu corpo físico consumado com sua morte, na sua inadequação fatal à vida manifesta em seu corpo denso.

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