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Percepção visual

Percepção visual

– O Fenômeno da Luz e da Cor –

De Rosângela Carvalho Ferreira (rfcarvalho27@yahoo.com.br) – Maio/2008

 

O fenômeno da luz e cor tem sido sempre um milagre fascinante. Com os dedos apreciamos uma superfície rugosa ou lisa. Há um contato direto com o objeto e a superfície de nossa pele. A primeira vista, tocar deveria ser mais fácil de compreender que ver. Porém, se pensarmos sobre tudo o que nos é necessário saber para dizermos a diferença entre um objeto rugoso, liso, transparente, polido etc., podemos concluir que há um abismo imenso entre o processo de percepção e a tomada de consciência de como percebemos. E o tratamento da informação sensorial pela consciência é ainda, em grande parte, um enigma.

Em realidade, o fato de percebermos uma superfície com os dedos não é mais fácil de explicar do que o de percebê-la visualmente. E os dois tipos de percepção confundem bastante o modo como achamos que percebemos as coisas. Porém, somente na metade do século XX nos foi logrado sintetizar conhecimentos satisfatórios sobre a visão, o que nos permite explicar melhor a visão das cores. Até então, muitas teorias sobre a percepção das cores foram investigadas e muitos conceitos equivocados foram assumidos como satisfatórios temporariamente, ocasionando muita confusão. Na realidade, tais equívocos se basearam na falta de conhecimento das faculdades visuais e das leis físicas. Somente a partir do século XX , a teoria do movimento ondulatório da radiação luminosa foi abordada , bem como, o estudo sobre as curvas de sensibilidades do nosso órgão de percepção visual e a atribuição a estas sensibilidades a três classes de cones. Descobriram o vermelho, o verde e o azul violeta como primárias e explicaram as impressões da cor pelas combinações desses diversos receptores sensíveis a ela.

Paralelamente, os físicos estudiosos da luz solar , ao analisarem a refração da luz através de um prisma de cristal, concluíram que é possível refletir suas cores sobre uma superfície de projeção, com o auxílio de um espelho. No lugar onde estas cores se sobrepõem, aparece uma nova cor mais clara que as cores que se misturaram para projetá-la. Desta forma, uma combinação de azul violeta e de verde, resulta em azul esverdeado claro (azul ciano). A mesma luz azul escura combinada com luz vermelha sobrepostas formam uma luz púrpura mais clara ( o magenta ). A luz verde e a luz vermelha sobrepostas formam uma luz mais clara ( o amarelo). Se se projeta a luz azul escura sobre a amarela haverá a luz branca. Estes experimentos demonstraram uma semelhança com as características de percepção de cores por nosso olho. A partir de então, as teorias explicativas da luz e das cores nos deram as diretrizes para o desenvolvimento do conhecimento do processo da visão, como se segue: luz (energia de luz) – objeto (matéria) – olho (centro de percepção visual) – cérebro (formação da imagem : visão) – associação (reconhecimento) e assimilação.

Vamos nos deter um pouco em cada um destes elementos citados acima para, então, podermos, a partir de uma linguagem comum, fazermos algumas considerações:

Luz

Numa abordagem relacionada a percepção visual, poderíamos definir luz como uma energia de radiação solar à qual o órgão do olho reage, analisando-a. Mas vamos nos deter um pouco mais com algumas informações bicas sobre sua natureza.

O Sol perde cerca de 250 milhões de toneladas por minutos, por radiação de energia, em todas as direções. Depois de atravessar uma distância de 149.600.000 km para alcançar a Terra, em um tempo aproximado a 8 minutos, numa velocidade constante, com uma longitude de onda variável expressa em hertz , nós recebemos uma pequenina parte dessa energia.

As radiações eletromagnéticas, nas quais a longitude de onda é inferior a 380 ou superior a 760nm ( 1nm = 1 nanômetro = 1 milionésimo de milímetro ), não produzem sensação visual no olho humano. A radiação compreendida entre 380 e 760nm é o que chamamos “luz” ( energia luminosa, pois a “luz” é uma sensação visual ). Abaixo vemos um diagrama desta banda de longitude de ondas, isoladamente, apenas para efeito de melhor compreensão do texto, apesar de sabermos que representa , numa escala logarítmica, uma pequena fração dentre as diversas bandas.

Espectro visível

Objeto (matéria)

O objeto é o que percebemos. Enquanto matéria, o objeto: – difundirá em profundidade , em todas as direções, de maneira seletiva, uma parte da energia da luz que incide sobre sua superfície; – absorverá ,de maneira seletiva, uma outra parte da energia da luz que incide sobre sua superfície; – transmitirá, de maneira seletiva, uma parte da luz ( quando for translúcido ); – e reenviará a parte restante da luz que não é absorvida pelas partículas dos pigmentos de sua superfície colorida, como uma radiação de luz.

Para exemplificar, imaginemos uma camada de pintura, ampliada de maneira tal que possamos ver esquematicamente as suas moléculas. A título de exemplo, tomemos um pigmento amarelo. Até aqui, não estamos falando de visão, de olhar nem de cor mas, tão somente, de uma energia luminosa em um ou em outro comprimento de ondas. As moléculas desse pigmento sensível a radiação luminosa devem absorver principalmente a banda de ondas curtas do espectro ( azul marinho) que as complementa . As outras, de ondas médias e longas do espectro ( amarela) , não serão absorvidas e devem deixar a camada de pintura, refletindo assim a luz amarela. Na verdade, quando dizemos que um objeto é amarelo ou de qualquer outra cor isto significa apenas que, enquanto matéria pigmentada sensível a uma parte de radiação luminosa do espectro que corresponde a uma luz de determinada cor, reflete essa luz.

Para concluir, podemos dizer que a “cor” em si, enquanto radiação, enquanto fenômeno luminoso, é definida e classificada pelo seu comprimento de ondas. Quanto aos objetos e a natureza não possuem “cor local” definida e imutável por não serem fontes de luz e, por isso, necessitam ser expostos a uma radiação luminosa para que possam ser identificados. E a necessidade do ser humano de identificar, reconhecer, classificar e organizar o mundo real aparente faz com que empreste aos objetos os nomes dessas diversas radiações de luz (cores) sem que perceba a complexidade dos fatores que envolvem essa operação.

Olho (centro de percepção visual)

O olho analisa a energia luminosa que recebe do objeto quanto ao lugar, à direção, à distância, à intensidade e à longitude de onda dominante. A energia luminosa entra pela pupila e é transmitida ao cérebro, como um impulso nervoso mediante os dois nervos óticos. Estes vão dos olhos ao crânio pelo canal ótico. Dali vão obliquamente, até a parte posterior, onde se encontram e entrecruzam parcialmente, trocando sua informação neste ponto.

O cérebro (formação da imagem – visão)

A imagem espacial de um objeto se forma no centro cerebral da visão a partir dos impulsos de energia luminosa analisada pelos olhos, como já dissemos acima, no item anterior. Desse modo, as informações transmitidas são passadas a outras células nervosas, precisamente no córtex do lóbulo occipital, na parte posterior do cérebro. Porém, como se efetua a transmissão e que é que a transmite? Ainda não sabemos precisamente a resposta. Em algum lugar, em nossa consciência, deve entrar esta informação material como a sensação de “ver”. Todo o mundo que nos rodeia se converte em uma realidade tangível e colorida graças a esta visão. Não percebemos nada de como nós vemos nem do funcionamento dos receptores de longitude de ondas das células e dos impulsos nervosos etc.. Somos apenas conscientes do nosso mundo tridimensional infinito mas, raramente nos damos conta de que toda a informação necessária para perceber o mundo nos chega através da simples abertura das pupilas.

Percepção da cor

Leis fisiológicas de nosso sistema visual e relação mútua entre as cores:

As três sensibilidades espectrais de nosso sistema visual, para a luz de banda de longitude de ondas curtas, médias e longas do espectro, nos dão respectivamente as sensações de cor: azul, verde e vermelho, quando são ativadas separadamente. Estas sensibilidades à cor podem ser mais ou menos ativadas e suas combinações mútuas infinitamente variadas. Por isto podemos distinguir um grande número de cores. Podemos distinguir até 9 milhões de cores com um órgão visual normal.

Podemos chamar as três sensibilidades à cor de “cores primárias do olho”: azul, verde e vermelho. Quando 2 das primárias do olho estão simultâneas e igualmente ativas temos o que podemos chamar de “ secundárias do olho”: amarelo, magenta e ciano.

 verde + vermelho > sensação de cor amarelo
vermelho + azul    > sensação de cor magenta
verde + azul          > sensação de cor ciano

Amarelo, magenta e ciano são chamados de secundárias especiais do olho porque para que possam aparecer, é necessário ativar duas das três sensibilidades do olho. Porém, quando as secundárias se combinam entre si, infinitamente, com as mais variadas intensidades, formam “as terciárias do olho” que são, em síntese, todas as cores que vemos, com exceção das primárias e secundárias.

Finalmente, devemos salientar que quando as três sensibilidades são ativadas simultânea e igualmente, num nível máximo de intensidade, recebemos a sensação de cor “branca”, quando o fluxo luminoso se choca contra uma superfície que reflete todas as longitudes de onda como, por exemplo, o óxido de magnésio. Se, no entanto, pudermos diminuir a intensidade da ativação das sensibilidades, guardando seu equilíbrio mútuo, para que nenhuma delas prevaleça, obtemos o “neutro” que poderá ser variado do branco ao negro, passando por todas as tonalidades de cinza. Os neutros também são terciários do olho e neles, as ondas curtas médias e longas da luz, são ativadas nas mesmas proporções. Esta é a condição especial necessária para a neutralidade porque, neste caso, a sensação de cor é colocada a zero , numa escala de 0 a 100. Também, todas as outras cores podem variar por mínimos graus perceptíveis, partindo do ponto onde a cor apresenta um grau de saturação máximo 100 até o ponto onde a cor é 0 ( neutro).

Considerações finais:

As considerações sobre luz e cor abordadas acima, de uma forma teórica e didática, embora sucintas, não foram apresentadas com a simples intenção de passar um conhecimento tão específico, apesar de muito interessante. Foram elaboradas para que pudéssemos, a partir da correta compreensão básica desses fenômenos, compartilhar, quando necessário, uma linguagem comum no trato de situações que frequentemente se nos apresenta no Projeto Portal envolvendo a percepção de luzes. Podemos perceber que em todas as situações em que luzes e cores são citadas no nosso contexto de atividades, prevalecem as primárias e secundárias do olho como, por exemplo, quando falamos sobre os chacras, a aura e sua percepção. Muitas vezes, o indivíduo pensa equivocadamente que está percebendo a aura e (ou) a vibração dos corpos físicos densos aos quais fixa sua visão e, no entanto, está apenas percebendo a freqüência de onda absorvida da cor do espectro luminoso não presente nos pigmentos do objeto observado, a que chamamos de cor complementar. Por exemplo, ao fixarmos o olhar numa bola de cor azul escura sobre uma superfície branca por alguns minutos, começaremos a perceber, em seguida, uma vibração de luz amarela (sua complementar ) ao seu redor ou , mesmo, ao desviarmos o olhar para uma outra superfície neutra veremos uma bola de luz amarela porque a luz amarela é a sobreposição de luz verde+vermelha que falta ao azul, que o complementa. Se fizermos o mesmo exercício com um objeto verde, veremos a sua contraforma em magenta; com um objeto vermelho, veremos o ciano e, vice versa. Frequentemente essa vibrações confundem o observador que presume estar vendo auras.

Quando em certas atividades do Projeto Portal, experimentamos uma “explosão de cores dentro da cabeça” e, para que isto acontecesse, fomos aconselhados a ingerir determinados alimentos com maior intensidade, num certo período de tempo, antes do exercício. Sempre nos perguntamos porque e qual a relação de uma coisa com a outra. Talvez (dizemos talvez porque não temos comprovação científica sobre nossa afirmação ) esses alimentos atuem na ativação das três sensibilidades do olho de modo diferenciado para que possamos interferir na nossa capacidade de absorver e perceber mais fortemente uma determinada freqüência de onda do espectro luminoso adequada ao exercício em questão? Porém, como o assunto relacionado à cores e pigmentos em nossos alimentos x energia de luz é muito específico e foge a nossa capacidade de maior elaboração, não podemos ir além de especulações e indagações.

Outra questão que nos chama a atenção é o quanto ouvimos de muitas pessoas afirmações tais como: “seres iluminados” , “seres de luz” e (ou) “pessoas de luz”, “ muita luz no Ano Novo” etc., a todo momento. E nos perguntamos: Será que nessas situações, o termo LUZ é compreendido e abordado da forma como nos referimos neste texto? De acordo com nossa conceituação, seres de luz, conforme já sabemos , são fontes de luz, são energia pura radiante, em todas as direções, 100% luz. Alguns de nós já tiveram a ventura de percebê-los. Porém, seres iluminados não são fontes de luz. São seres ou indivíduos que se aperfeiçoaram e se sutilizaram a ponto de absorver e refletir em intensidade cada vez mais alta, em todas as direções a luz que captaram e captam. Quem é iluminado não é luz, foi iluminado por ação de uma fonte de luz externa à sua natureza primordial, mantendo a capacidade de refleti-la constantemente. São os chamados homens perfeitos. Por isso a iluminação é considerada uma conquista individual transformativa. Há que se chegar lá. Quanto ao que chamamos, às vezes, de “pessoa de luz” referimo-nos ao indivíduo em sintonia com energias de luz, de forma equilibrada e que irradia esse equilíbrio energético de luz no convívio com as pessoas e com a natureza ao seu redor. São pessoas que nos fazem sentir muito bem ao nos aproximarmos delas. Em geral, agem, mesmo que não o saibam, como catalisadores e transmissores de energia. Quanto a saudações com a intenção de “enviar luz” a alguém. Será que procede fazê-las? Como seres iluminados e não luminosos que somos nós, podemos sempre captar e transmitir luz, energia, o que sempre nos faz bem e a quem nos cerca também. Enviar luz não é uma simples força de expressão. É um propósito, uma ação, uma reciclagem energética, uma forma muito efetiva de melhorar a vida ao nosso redor. Não nos esqueçamos que as “formas/pensamentos” que imaginamos são coloridas e essas cores são energias de luz.

Poderíamos tecer muitas outras considerações sobre luz e cor, tão importante e presente em nossa vida. Porém, devido à vastidão dos aspectos que compõem este tema não podemos ter a pretensão de esgotar um assunto tão fascinante como este num texto tão sucinto. E talvez, nem tenhamos a capacidade para tal. Porém, esperamos que esta breve abordagem nos tenha despertado um pouco mais atentamente sobre a natureza deste mundo visível e fascinante em que por ora percebemos a vida manifesta em formas e cores em constante mutação.

Muita luz para todos!

Bibliografia consultada:
Arnheim, Rudolf. Art and Visual Perception (a Psychology of the Creative Eye).University of California Press,Berkeley, 1974.
Gerritsen, Frans. Color.( apariencia óptica, médio de expresión artítica y fenômeno físico) .Editorial Blume, Barcelona,1976.

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